A garota das lágrimas silenciosas (Conto)

 
Como se tudo a sufocasse, ela sentia-se como se segurasse o peso do mundo em suas mãos, e no meio disso tudo, ela estava sozinha.
Como suportar o seu pior pesadelo em suas costas? Bilhões de pessoas à destruindo pouco a pouco com palavras gritantes em seus ouvidos. Como superar a gravidade, sem ninguém para segurar suas mãos? Como respirar o ar puro novamente?
Ela sentia-se sufocada, sem vida, ela sentia-se sozinha no pesadelo que alguns chamam de realidade. Como ser salva, em seu pesadelo real, se seu salvador existe somente em seus sonhos imaginários? Correr. Ela correu, correu o mais rápido que pode, ela fugiu. Correndo por dentre as ruas, se desviando dos monstros, pessoas. Os verdadeiros monstros estão dentro das pessoas. Fugindo, correndo, desviando das pessoas que a observavam com desaprovação, e de carros, motos...Máquinas que engrandecem a monstruosidade humana.
No céu, por trás de nuvens, que hora ou outra, a atrapalhavam de ver uma parte de seu mundo, a Lua.
A grandiosa Lua crescente, que entre algumas poucas estrelas, iluminava seu caminho fugitivo. 
Ela não segurava mais suas lágrimas, que escorriam incansavelmente por sua face inexpressiva; ela não queria demonstrar o que sentia. Como segurar as lágrimas, sabendo que ninguém está disposto à secá-las? Como expor suas ideias, se todas elas serão ignoradas? 
Sua visão, turva pelas lágrimas, se concentrava na Lua, que parecia acalmá-la, sendo agora sua única e melhor amiga. Seu interior estava destruído, seu coração, quebrado. Ela queria mais do que tudo desaparecer, precisava fazê-lo. Seu coração e sua alma necessitavam disso. Em seu interior, tudo clamava para que ela ressuscitasse a fantasia dentro de sua mente e de sua alma. A garota das lágrimas sem fim, desejava como nunca voltar ao seu reino, que em algum lugar no espaço-tempo, jazia em um sono profundo. 
Na sua fuga, a garota continuou correndo, até encontrar um lugar que despertasse nela algo que não fosse o puro caos. 
Cansada, com frio, triste, sozinha...Ela abraçava a si mesma, tentando se proteger da fria brisa noturna que a tocava. No meio de todo aquele pesadelo, ela avistou uma floresta, que despertava, bem no fundo de sua mente, uma lembrança. A floresta de árvores altas, de copas densas, se assemelhava ao lugar onde conhecera seu salvador. Em um piscar de olhos, ela correu para lá, em passos velozes, até estar perdida de mais para ser encontrada. 
Um desespero tomou conta de si. Seu amor devera salvá-la agora, mas ele não estava lá...Seria ele somente mais um de seus fantasmas imaginários? A garota, apavorada, começou a buscar o fim da floresta. 
A mata estava escura. As poucas estrelas visíveis no céu, e a lua em sua fase crescente, formavam uma pequena brecha de luz, que entrava pela densa copa das árvores. Ela, agora andava com calma, tentando se  guiar no meio daquela escuridão, porém, mesmo assim, sentia alguns galhos arranhando seus braços e  pernas. Os sons dos animais noturnos a deixavam cada vez mais desesperada; com sua imaginação fértil, a garota imaginava todo o tipo de criatura monstruosa saltando do topo de uma árvore, e a estraçalhando em mil pedaços com garras tão afiadas quanto uma faca. O cheiro de terra molhada estava começando a invadir suas narinas, por mais que as densas folhas das árvores a protegessem da água, ela sabia: estava começando a chover.
No fim das contas, ela achou uma clareira em meio à floresta; um lago, que parecia pertencer aos seus sonhos. A garota ajoelhou-se na terra, desabando em lágrimas. Ela estava certa, tudo aquilo era real! E então, a menina das lágrimas silenciosas, e do mundo fantasioso, adormeceu em meio ao seu mundo, onde sonharia com a eterna paixão de seus delírios noturnos.

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E me deixe feliz! Eu não digo feliz tipo: =D, mas, sim feliz tipo: Se você for uma pessoa legal e comentar eu vou sair correndo e pulando pela casa toda, com um sorriso na cara de orelha a orelha porque eu recebi um comentário, e não, eu não preciso de um psicólogo, eu preciso do seu comentário.

P.S.: Talvez um psicólogo também não seja má ideia...